Fobia Social

Na fobia social a pessoa se sente ansiosa em “situações sociais”, quando poderia se sentir observada pelos outros. A pessoa fica insegura, temendo pelo seu desempenho e preocupada com o que poderão pensar dela naquele estado. O grau de ansiedade pode ser muito intenso, podendo chegar a uma crise aguda de ansiedade.

As situações sociais temidas podem ser variadas, como escrever na frente dos outros, falar em público, comer em locais públicos, entrar em lugares cheios, ir a um evento social, fazer uma entrevista de emprego, encontrar um conhecido etc.

O Transtorno de Ansiedade Social pode ser classificado em dois subtipos. Um subtipo  denominado generalizado, na qual a pessoa teme quase todas as situações sociais: conversar, namorar, sair em lugares públicos, falar, comer, escrever em público, etc

E um subtipo denominado não generalizado, ou restrito, no qual a pessoa teme uma ou poucas situações sociais específicas.

A própria expectativa de enfrentar situações sociais pode levar a pessoa a querer evitar se expor a situações sociais. Quando sai da situação, a ansiedade tende a diminuir significativamente, o que reforça tendências de fuga da situação. Estes comportamentos de evitação e fuga são altamente disfuncionais e tendem a ir limitando significativamente a vida da pessoa.

A fobia social se diferencia da timidez comum: 

(1) pelo grau de intensidade da ansiedade gerada antes e durante a situação social 

(2) pelo grau de prejuízos que traz à vida, com comprometimentos que alcançam a esfera profissional, escolar e social. 

Por esta razão é também chamada de “Timidez Patológica” ou de Transtorno de Ansiedade Social.

Muitas pessoas não sabem que existe tratamento psicológico para a timidez patológica e só procuram ajuda quando o quadro se agrava, se associando a outros problemas. É comum a fobia social contribuir para o desenvolvimento de depressão e abuso de álcool e drogas

A Fobia Social é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como um transtorno psicológico. As pesquisas indicam que entre 4 e 12% de pessoas vão apresentar Fobia Social em algum momento de suas vidas.

Sintomas

Numa situação social temida a pessoa com fobia social apresenta dois tipos de sintomas: de ansiedade e situacionais.

Os sintomas de ansiedade podem incluir palpitações, falta de ar, tontura, sensação de desmaio, enrubescimento, suor, embaçamento da visão etc.

Os sintomas situacionais podem variar como por exemplo, tremer e não conseguir escrever, gaguejar, travar a garganta e não conseguir engolir, sentir vontade de ir ao banheiro, dar “branco” e não lembrar de algo importante, etc. Estas reações produzem forte insegurança, levando a pessoa a duvidar de sua capacidade de conseguir desempenhar a função social envolvida na situação.

É comum que a pessoa comece a temer antecipadamente sentir-se mal nas situações, o que dispara uma ansiedade antecipatória forte. Há um medo de se sentir embaraçado, inadequado e não se sair bem na situação. A dúvida e a incerteza produzem insegurança e ansiedade. Uma das conseqüências é a pessoa começar a evitar situações em que ela imagina que poderá passar mal, o que vai restringindo sua vida.

Uma das fantasias comuns é que os outros estão percebendo que ela está passando mal, percebendo sintomas como tremor, suor, rubor na face, alteração da voz, etc. Acreditando neste pensamento a pessoa vai ficando cada vez mais insegura e ansiosa, o que aumenta seus sintomas. Mesmo que ninguém esteja objetivamente olhando ou avaliando a pessoa, ela sofre com o pensamento distorcido de estar sendo observada, com receio que possam ver como ela está ansiosa, desajeitada, etc.

Tratamento

A análise psicológica costuma demonstrar que a pessoa com fobia social tende a colocar muita importância na opinião dos outros. É como se a pessoa estivesse des-centrada, como se o centro de sua mente estivesse no olhar do outro e ela dependesse deste olhar do outro para ficar bem ou se sentir péssima. Há muita energia psicológica projetada neste olhar imaginário de fora. É necessário trazer a pessoa de volta, para o seu centro interno.

O tratamento psicológico da fobia social foca alguns pontos principais:

1 Aprender técnicas de autogerenciamento para regular o grau de ansiedade nas situações sociais críticas. É fundamental aprender técnicas e estratégias para lidar com os picos de ansiedade nas situações sociais, tornando a situação manejável, assim como aprender técnicas para lidar com a ansiedade antecipatória. Esta etapa inclui entender a resposta emocional de ansiedade para compreender o que o corpo busca com suas reações, de modo a facilitar respostas corporais que aliviem a ansiedade, ao invés de tentar controlar todas as reações e assim piorar ainda mais a tensão. Neste processo utilizamos técnicas de autogerenciamento como Experiência Somática, Método dos Cinco Passos, Técnicas de Manejo Respiratório para Situações de Crise, trabalhos oculares para desenvolver atenção, autocentramento e presença. Conforme a pessoa vai sendo capaz de regular sua ansiedade, sendo capaz de enfrentar as situações sociais, vai aumentando seu sentimento de confiança. 

2 É importante identificar e trabalhar com as distorções cognitivas que levam a pessoa a se sentir cada vez mais ansiosa. Há uma série de pensamentos que tendem a ficar distorcidos e exagerados, quando a pessoa, por exemplo, imagina ser o centro da atenção (quando na verdade não é), imagina que estão olhando criticamente para ela (quando na verdade não estão), acha que os outros estão percebendo claramente seu estado interno (quando na realidade não estão), imagina que a ansiedade destruirá sua performance (quando poderia ter boa performance mesmo estando ansiosa) e prevê consequências catastróficas para a situação, exagerando os riscos do estado de ansiedade. Aprender a identificar e processar estes pensamentos ajuda a pessoa a construir uma perspectiva mais clara da situação, funcionando como um regulador da ansiedade.

3 Toda pessoa com algum transtorno de ansiedade tem forte intolerância aos sintomas da ansiedade. Ao sentir os primeiros sinais de ansiedade em seu corpo (taquicardia, por exemplo) ela já fica aflita, querendo se livrar logo daquilo e imaginando o pior. Este processo de “medo do medo”, só aumenta a ansiedade, atrapalhando a concentração na atividade social e a capacidade de auto-regulação emocional. É fundamental aumentar a tolerância interna aos sinais da ansiedade e superar o medo deles. A pessoa pode inclusive aprender como é possível ter um bom desempenho social sob graus variados de ansiedade. Nesta etapa utilizamos técnicas de Atenção Plena (Mindfulness), para aumentar a aceitação do desconforto e trabalhos de  exposição gradual, através de exposição interoceptiva (exposição aos sintomas corporais da ansiedade), exposição simulada a situações temidas com o auxílio de Role Playing e exposição real.

4 Precisamos identificar e trabalhar os traumas psicológicos e experiências de vida que podem ter contribuído para o desenvolvimento da fobia social. Como o sofrimento ocorre em situações sociais, seu desenvolvimento decorre de traumas e experiências anteriores de relacionamentos interpessoais. É comum, por exemplo, a pessoa se imaginar sendo observada por “alguém crítico”. Este “outro crítico” pode derivar da “projeção”, muitas vezes não consciente, de uma figura crítica da história de vida da pessoa. Pode ocorrer também a projeção de auto-críticas que a própria pessoa se faz, a partir de crenças negativas sobre si mesmo que se formaram em situações traumáticas passadas. Durante o tratamento é comum emergir memórias de situações sociais traumatizantes que a pessoa não se recordava. Nesta etapa utilizamos técnicas de processamento e resolução de memórias traumáticas, como EMDR, Brainspotting e Experiência Somática (Somatic Experiencing).

Sintetizando, um tratamento psicológico eficaz da fobia social inclui:

(1) aprendizado de autogerenciamento

(2) trabalho com as distorções cognitivas

(3) aumento de tolerância emocional

(4)  processamento e resolução de memórias traumáticas

Para a maioria dos casos de Fobia Social o tratamento psicológico especializado é suficiente, enquanto alguns casos mais severos se beneficiam de um tratamento conjugado de atendimento psicológico e medicação.

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Vânia Calazans

Psicóloga Clínica pelo Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

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