Saiba o que fazer com sua preocupação excessiva

Ter preocupações é uma condição recorrente no nosso dia a dia e todos nós nos preocupamos, mas o problema é quando esta preocupação fica fora de controle, excessiva e prejudicando a nossa qualidade de vida. A preocupação excessiva está intimamente relacionada a ansiedade, trata-se de um medo que sentimos por não conseguirmos controlar tudo o que gostaríamos. Tememos o que o futuro nos reserva por sentirmos medo do desconhecido.

Quando nos sentimos preocupados, o cérebro dispara um sinal de alerta e ficamos ansiosos, em estado de atenção, na expectativa de que algo aconteça. Nessa condição podemos ter sensações fisiológicas como taquicardia, falta de ar, tensão emocional.

A preocupação excessiva é sentida no presente, mas está sempre relacionada ao futuro, ao que pode vir a acontecer ou está por acontecer.

Quando estamos preocupados acontece um fenômeno na nossa mente que recebe o nome de ansiedade cognitiva Trata-se de pensamentos relacionados a uma possível ameaça no ambiente e acerca do que estamos sentindo no nosso corpo. Essa ameaça normalmente está relacionada a preocupações, como uma prova, uma conversa que você vai ter com o seu chefe, o saldo no banco, um relacionamento afetivo. Nessas condições nos mantemos atentos, monitorando essa possível ameaça.

A preocupação passa a ser foco de atenção quando ela se torna excessiva e começa a prejudicar a sua vida a ponto de disparar sintomas de ansiedade. Podemos nos preocupar sem entrarmos num estado ansioso. É aquele momento que você para e faz uma reflexão sobre algo que te preocupa, mas ainda tem condições cognitivas de ponderar, raciocinar e tirar conclusões acerca do problema. Porém, quando a sua mente fica inundada de preocupações, você já disparou o seu sistema de alerta e entrou num estado ansioso.

Temos que aprender a viver com a ansiedade saudável que é aquela que nos permite detectar e lidar com problemas que são importantes para a nossa vida, nos motiva a ter energia, nos impulsiona a correr atrás dos nossos objetivos. Porém, quando nós tentamos evitar a ansiedade saudável por medo da sensação, que ela nos traz, entramos num ciclo de tensão persistente, preocupação crônica, insônia, hipervigilância, agitação, incapacidade de realização, dificuldade de concentração, irritabilidade e tudo isso aumenta ainda mais a ansiedade.

Muitas pessoas entram em um profundo desgaste emocional pois se preocupam com o que as pessoas pensam a seu respeito. Isso ocorre em virtude de um imenso desejo de serem aceitas. Querem manter uma imagem que acreditam que agrade e o fazem a qualquer custo. Criam uma expectativa elevada a respeito do próprio desempenho e passam a vigiar seu comportamento por medo de se comportar de forma hipotéticamente inadequada ou desagradável. Essa preocupação excessiva pode comprometer a qualidade de seus relacionamentos sociais e pode desencadear um evitamento social.

Essa sensação de falta de controle causa muito desconforto e vai gerando ainda mais insegurança. O medo do desconhecido aumenta e nos sentimos incapazes de realizar mudanças, de sair da nossa zona de conforto, e assim, a pessoa vai restringindo cada vez mais suas experiências de vida. Desenvolvemos um medo de que as pessoas identifiquem a nossa insegurança, a nossa fragilidade, os nossos medos e cresce a nossa autoavaliação negativa, e assim, adquirimos o hábito de antecipar os resultados como se pudéssemos prever o que de fato pode acontecer em uma determinada situação.

Ao nos preocuparmos com o que as pessoas vão pensar a nosso respeito imaginando que elas têm visão de raio X e podem identificar os nossos medos, e inseguranças fragilizamos nossa autoestima e autoconfiança e entramos num ciclo vicioso, onde passamos a nos preocupar em esconder a nossa ansiedade.

A catastrofização é um tipo muito comum de preocupação, onde a mente cria o pior dos cenários para qualquer tipo de situação, inclusive para as mais insignificantes. Isso tudo acontece porque a preocupação excessiva não passa pelo crivo da razão, é essencialmente uma reação emocional de medo.

 Se queremos lidar com a preocupação excessiva, precisamos nos dispor a deixar de nos preocuparmos o tempo todo, e para isso precisamos usar mais a nossa competência cognitiva e refletirmos sobre a veracidade e a intensidade dos medos e das preocupações.

O problema em relação à preocupação não está no aparecimento de pensamentos de medo, mas na importância e na atenção que damos a eles. Não temos condições de eliminar toda e qualquer preocupação, isso é impossível, mas ao entendermos que a preocupação é produzida pelos nossos pensamentos e nos trazem sensações desagradáveis, admitimos que podemos senti-los, mas que também podemos nos desapegar deles.

Ao desenvolvermos consciência de que temos uma pré-disposição para termos pensamentos de medo que trazem sensações desconfortáveis, entendemos que estão ali para nos trazer uma informação. Essas sensações ruins vão ativar ainda mais determinados pensamentos de preocupação porque, quando o seu cérebro entende que você está correndo um perigo real (por ele não separar imaginação de realidade) ele dispara todo esse padrão de pensamentos e emoções para te proteger dessa ameaça. Quanto mais consciente você estiver de que cria preocupações e as alimenta, mais fácil vai ficando de você perceber se de fato essa preocupação te serve ou te prejudica. Se você identificar que essa é uma preocupação fundamentada, reflita sobre ela e pondere o que você pode fazer a respeito.

Tome as atitudes de acordo com as suas conclusões e caso você entenda que apesar de ser uma preocupação devida, não há o que você possa fazer, assimile a frustração da sua impotência diante da situação e decida não investir um tempo demais nessa preocupação. Escolha se afastar dos pensamentos negativos e das emoções desagradáveis.

Quando você age de acordo com os seus objetivos, o seu corpo te prepara para ação, porém quando você está mobilizado pelo medo, o seu cérebro te prepara para o evitamento. Tenha claro que se você não aprender a controlar as preocupações infundadas, você vai entrar num estado de ansiedade permanente, vivendo de forma tensa ou criando desculpas para evitar situações que te parecem ameaçadoras.

Manter um estado de preocupação constante é um desejo infantil de escapar do presente, de evitar a essência da nossa existência, de querer ter mais controle sobre a vida do que de fato temos. Precisamos lembrar que vivemos a vida enfrentando os problemas do cotidiano e nunca tivemos controle absoluto de nada. A sensação de segurança que sentimos vem de dentro, é aquela que nós criamos quando temos pensamentos construtivos a respeito de nós e da vida que vivemos. A segurança se instala quando admitimos que nada é permanente ou imutável, mas que nós conseguimos viver assim há anos e está tudo bem.

Precisamos usar da nossa competência racional e objetiva e nos conscientizar que a sensação de controle é ilusória. Precisamos aceitar que não somos onipotentes e apesar de desejarmos muito, não temos como antecipar o que nos espera. Precisamos nos conscientizar da nossa condição humana e aceitar que temos uma ansiedade natural e necessária, pois esse tipo de compreensão vai nos ajudar a não nos preocuparmos tanto e focarmos numa forma mais agradável de viver o futuro que está sempre por se revelar. Precisamos entender que normalmente conseguimos realizar muito do que trabalhamos para conquistar, e que podemos continuar tendo expectativas positivas e trabalhando no sentido do nosso propósito de vida, mas precisamos também, aprender a colocar foco no presente e ter prazer nas tarefas e vivências cotidianas.

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Vânia Calazans

Psicóloga Clínica pelo Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

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